Blog do Kuramoto

Este blog se dedica às discussões relacionadas ao Open Access

Entrevista, em português, de Bernard Rentier ao jornalista Richard Poynder, Parte I

Conforme havia dito, farei a tradução da entrevista concedida pelo reitor da Université de Liège (ULG), prof. , ao jornalista Richard Poynder. Trata-se de uma entrevista fantástica, na qual o prof. Bernard Rentier mostra a sua visão empreendedora, de homem público, de cientista e, principalmente, de um dirigente de universidade e que poderia ser, eventualmente, também dirigente de uma instituição como o Ministério da Ciência e Tecnologia, ou Ministério da Educação, ou da Capes ou do CNPq. A entrevista é muito longa, ao todo são 15 páginas de papel no formato carta. Só de introdução feita pelo jornalista Richard Poynder são duas páginas. Assim, neste primeiro post, apresento apenas a tradução da primeira página. Leiam.

O que é notável sobre o Open Access (OA) é o fato de ser, obviamente, o caminho certo e racional para a comunidade científica responder ao mundo em rede. De fato, pode-se descrevê-lo apropriadamente como um acéfalo – ou, como diz o advogado do OA, Stevan Harnad: OA é a “ciência capa de chuva ” (“Está chovendo, meninos, vocês estão se molhando: é hora de colocar suas capas de chuva! “).

O que é estranho, sobre OA, é que tão poucos na comunidade científica parece não ter compreendido (ou pelo menos aceito) a sua inevitabilidade. Essa miopia não é, indubitavelmente, um acidente – muitos têm interesse no status quo, enquanto outros instintivamente têm medo da mudança e uma aversão irracional ao novo.

Consequentemente, o que é certamente “inevitável e ótimo” foi adiado por mais de uma década e meia. Enquanto o OA universal poderia, em teoria, ser percebido, em apenas uma noite, estima-se que apenas 30% da literatura científica/acadêmica esteja livremente disponível na web.

Felizmente alguns conseguem captar no momento em que o conceito é explicado a eles – como fez Rentier Bernard, professor de virologia e imunologia da Universidade de Liège (ULG), em 1998.

Rentier tinha sido nomeado vice-reitor responsável pela política de pesquisa científica e das bibliotecas na ULG no ano anterior – uma posição que, inevitavelmente, concentrou sua mente professoral em uma série de problemas para os quais OA tornou-se a solução. Isso ficou claro para ele durante uma conversa que teve com um bibliotecário, que introduziu o conceito existente por trás do movimento OA, então incipiente.

“Foi, imediatamente, óbvio para mim que esta era a abordagem lógica a tomar”, diz Rentier, “, especialmente porque a nova tecnologia que estava surgindo, em seguida, tornou-se inteiramente possível.”

Para começar, diz Rentier, ele viu que OA poderia ajudar a aliviar a crise seriados – um fardo indesejável sobre as universidades que a cada ano vê pedaços cada vez maiores de seus orçamentos para biblioteca sendo engolidos pelo aumento dos preços das assinaturas de revistas.

Ele também percebeu que tornando os seus artigos disponíveis livremente na web, os pesquisadores da ULG poderiam incrementar tanto o impacto como a sua visibilidade dentro da comunidade científica global – algo que todos os seus pesquisadores e suas instituições desejam.

Finalmente, Rentier pôde ver que OA permitiria à ULG demonstrar ao mundo a qualidade da pesquisa que seus cientistas desenvolviam e, portanto, melhorando a sua reputação institucional.

O que foi especialmente fortuito, sobre a conversa com Rentier sobre OA, é que ele é um homem com uma energia e entusiamo ilimitados, e em posição de criar uma mudança mais eficaz do que muitos defensores da OA – especialmente depois que ele foi eleito Reitor da ULG em 2005.

Naquele momento, Rentier concluíu que, embora a estratégia Dourada (edição OA) pudesse vir a ser uma boa solução a longo prazo, a melhor estratégia à curto prazo era abraçar a estratégia Verde (auto-arquivamento). Em outras palavras, em vez de aconselhar os pesquisadores a procurar uma editora OA, ou revista de acesso livre, para publicar seus artigos, era melhor incentivá-los a continuar publicando normalmente e fazer com que todos os seus artigos fossem disponibilizados gratuitamente na Web, por meio do auto-arquivamento.

Vale lembrar que o prof. Rentier teve seu primeiro contato com o OA em 1998, portanto, 10 anos antes de um artigo publicado na coluna Tendência/Debates em 21/01/2008, do jornal Folha de São Paulo, no qual se apresenta uma visão distorcida do OA. É incomparável o brilhantismo e a percepção do prof. Rentier.

junho 14, 2011 - Posted by | Entrevista | , , , ,

4 Comentários »

  1. […] a implantação da estratégia da via Verde, não apenas no Brasil, mas também no exterior (vide entrevista do reitor da Université de Liège, Bernard Rentier). O jornalista que entrevistou este reitor, […]

    Pingback por Acesso Livre: aos bibliotecários um ajusta homenagem pelo seu dia! « Blog do Kuramoto | março 12, 2012 | Responder

  2. Professor kuramoto, boa tarde,

    Pergunto-lhe se me poderia enviar alguma informação ou referencia de algum trabalho recente que me desse noções acerca do posicionamento das bibliotecas ao tema do acesso aberto, nos Estados Unidos.

    Mais uma vez o felicito pelo seu excelente Blog.

    Obrigada

    Comentário por JJ | setembro 16, 2013 | Responder


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