Blog do Kuramoto

Este blog se dedica às discussões relacionadas ao Open Access

Acesso Livre: aos bibliotecários uma ajusta homenagem pelo seu dia!

Este post não falará diretamente sobre o tema central deste blog mas fará uma homenagem aos especialistas da classe que contribuiu decisivamente para eclodir o movimento do Acesso Livre e vem contribuindo para a implantação da estratégia da via Verde, não apenas no Brasil, mas também no exterior (vide entrevista do reitor da Université de Liège, Bernard Rentier). O jornalista, Richard Poynder, que entrevistou este reitor, inclusive, aponta que o Bernar Rentier teria sido alertado por um bibliotecário sobre os fundamentos do movimento, naquela época, ainda incipiente moivmento Open Access.

Devemos, além disto, dar o crédito aos bibliotecários por serem os primeiros a perceberem a crise dos periódicos e promover, em consequência, revisão de suas políticas de aquisição em diversas bibliotecas e buscar alternativas de manutenção das coleções. Hoje, a grande maioria dos repositórios de Acesso Livre estão funcionando e foram desenvolvidos graças ao empenho dos bibliotecários. Eloy Rodrigues é um exemplo desse tipo de profissional. Infelizmente, não dá para enumerar todos os profissionais envolvidos com a causa do acesso livre, este blog não teria espaço para enumerar tantos nomes, o que não me impede de render as minhas homenagens, aos bibliotecários representados pela pessoa de Eloy Rodrigues como legítimo representante de tão importante classe de profissionais pelo importante trabalho que realizam nas biliotecas existentes no Brasil e em tantos outros lugares espalhados pelo globo terrestre. A esses profissionais os nossos mais efusivos votos de sucesso e que este seja um dia muito especial.

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março 12, 2012 Posted by | artigo | , , , , , , | 2 Comentários

Acesso Livre: como alcançar o Acesso Livre Universal

Helio Kuramoto

Pelo post de Stevan Harnad, Plan C for Open Access: Flea Powder, traduzido e publicado por este blogueiro no endereço http://kuramoto.blog.br/2012/03/05/plano-c-para-o-acesso-livre-po-para-pulgas/.
Verifica-se que o único caminho defendido por aquele líder é a implantação da estratégia preconizada pela via Verde,  ou seja, a implantação de repositórios institucionais nas universidades  e/ou  repositórios centrais por parte das agências de fomento e estabelecimento de mandatos/políticas de Acesso Livre. Em outras palavras, o Acesso Livre Universal será alcançado quando todas ou quase todas as universidades construírem e mantiverem seus repositórios institucionais, assim como todas ou quase todas as agências de fomento construírem os seus repositórios centrais e estabelecido os seus mandatos/políticas de Acesso Livre. Em tese isto depende apenas da comunidade científica, mais especificamente das universidades, agências de fomento e pesquisadores.
Ora, este caminho pode ser até viável,  entretanto, é um caminho bastante longo, uma vez que existem inúmeras universidades ao redor do globo terrestre e, nem todas estão motivadas a implantarem a via Verde. Certamente, aquelas que tiverem realmente dificuldades em manter as suas coleções de revistas científicas, necessárias ao desenvolvimento de suas pesquisas, se sentirão motivadas a adotarem a via Verde.
Em muitos países, as suas universidades e instituições de pesquisa são responsáveis pelo fornecimento de acesso às revistas científicas e os seus dirigentes e pesquisadores sentem na carne a dificuldade no acesso a essas revistas, têm consciência do elevado custo das revistas científicas e buscam alternativas para superar essas dificuldades, conforme pode ser percebido na entrevista do reitor Bernard Rentier da Université de Liège. 
Mas, e aquelas que não enfrentam essas dificuldades? Exemplo de universidades que se enquadram nesse contexto são as universidades brasileiras e outras de países, que à semelhança do Brasil, seus governos se preocupam e têm condições de arcar com os custos de assinatura das revistas científicas e fornecem o seu acesso às universidades e instituições de pesquisa. Certamente, não se sentirão motivadas uma vez que os seus pesquisadores têm atendido a sua necessidade de informação científica por seus governos e não farão qualquer pressão por acesso a essas informações.
Nesses casos, algumas questões são dignas de serem respondidas: Terão esses países orçamentos capazes de manter essas assinaturas eternamente? Esses governos adotaram algum plano de preservação ou de contingência para essas assinaturas? Ou seja, se um dia o país não tiver mais orçamento para manter as assinaturas das revistas, as suas universidades e instituições de pesquisa continuarão a ter acesso às revistas científicas? Certamente, não.
E, certamente, esses países serão o ponto fraco para que se possa alcançar o Acesso Livre Universal.
Por outro lado, o que aprendemos com as matérias de Stevan Harnad é que a via Verde é o único caminho para se alcançar o Acesso Livre Universal. Com essa perspectiva, uma solução para acelerar o processo de implantação da via Verde e alcançar o Acesso livre Universal pode ter sido encontrada ou demonstrada pela Espanha, que inseriu na sua Lei de Ciência, Tecnologia e Inovação um artigo sobre a difusão dos resultados das pesquisas científicas  em  Acesso Livre. É uma iniciativa que certamente define e estabelece uma política nacional de informação científica. Trata-se do artigo 37 daquela lei, que estabelece essa difusão por meio dos repositórios institucionais de Acesso Livre. Esta lei entrou em vigor no último dia 3 de dezembro de 2011.
De forma análoga, nos EUA o congresso analisa o projeto de lei FRPAA que estenderá o política de Acesso Livre adotada para o National Institute of Health às demais agências de fomento americanas.
As iniciativas espanhola e americana servem de exemplo para países em desenvolvimento, em especial, ao Brasil e outras nações. No caso brasileiro, existe um projeto de lei do Senado Federal, o PLS 387/2011 que tramita na CCT – Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática e tem como relator o senador Cristóvam Buarque. A rigor tudo o que se encontra neste projeto de lei poderia ter sido ou pode ser ainda implementado por mecanismos normais como uma portaria ou instrumento do poder executivo, se houvesse melhor juízo ou entendimento e percepção dos dirigentes do segmento da educação e da ciência. 

março 8, 2012 Posted by | artigo | , , , , , , , | 3 Comentários

Agência de fomento belga dá exemplo para o Acesso Livre universal (OA)

O Conselho de Administração do FRS-FNRS (Fund for Scientific Research da Bélgica-francófona) anunciou, oficialmente, que decidiu utilizar Repositórios Institucionais, exclusivamente, como fontes de dados bibliográficos em suporte à avaliação de submissão de pedidos de auxílios à pesquisa ou bolsas (exceto para candidatos estrangeiros), a partir de 2013 (fortemente encorajados em 2012).

A FRS-FNRS é a principal agência de fomento para a pesquisa básica na Federação de Wallonia-Brussels.

Segundo, Stevan Harnad, esta é a primeira iniciativa a estender, a uma agência de fomento, uma das principais características do modelo instituído pelo prof. Bernard Rentie, o “modelo de Liège”, mandato adotado em uma instituição de pesquisa para implantação de um RI. Tal modelo inclui o modelo ID/OA.

O modelo de Liège tem as seguintes características: i. torna obrigatório o depósito da produção científica; e para assegurar o seu cumprimento, ii. designa o depósito no repositório institucional como o único mecanismo utilizado para avaliar a apresentação de publicações na análise de desempenho pessoal/institucional.

O FRS-FNRS é a agência responsável pelo financiamento da pesquisa científica na Bélgica francófona. Sua contraparte Flamenga, FWO, estabeleceu o mandatado OA de depósito em 2007, mas, como a maioria dos mandatos de agências de fomento, ele não especificou onde depositar e nem forneceu qualquer sistema de monitoramento para garantir o cumprimento: http://roarmap.eprints.org/57/.

O FRS-FNRS designou, agora, o depósito em RI como o único mecanismo em suporte à avaliação de um pedido de financiamento de pesquisa.

Esta decisão proporciona seis grandes benefícios:

(1) Não apenas estende o modelo de Liege, estabelecendo uma forma de cumprimento/monitogamento para o mandato de uma agência de fomento, mas também;

(2) ajuda a integrar os mandatos institucionais e de agências de fomento;

(3) garante que o depósito seja feito,

(4) assegura que o depósito é feito em repositório institucional do autor (em vez de em diversos repositórios institucionais externos),

(5) incentiva as instituições que ainda não adotaram a via Verde do OA a adoptá-la, de forma a complementar mandatos das agências de fomento de toda a produção científica institucional, financiada e sem fundo; e

(6) assegurar que os mandatos institucionais e das agências de fomento sejam convergentes e que se reforçam mutuamente, em vez de divergentes e competitivos, com depósitos de ambos os mandatos sendo feito institucionalmente, e com as instituições, portanto, acompanharem e assegurarem a conformidade com os mandatos das agências de fomento.

Mais um passo foi dado em direção ao OA universal e serve de exemplo a outras agências de fomento, em especial às brasileiras, as preferem manter-se reféns das editoras comerciais.

dezembro 23, 2011 Posted by | artigo, Mandato OA | , , , , , | Deixe um comentário

Uma verdadeira aula sobre o acesso livre ou simplesmente OA

Não resistirei à tentação, farei uma pequena recensão da entrevista realizada pelo jornalista Richard Poynder com o reitor da Universidade de Liège (ULG), Prof. Bernard Rentier, por sinal muito bem executada. Trata-se de um bela visita aos fundamentos do Open Access (OA). Muito didático e entusiamante. A começar pela introdução Parte I e Parte II, nas quais é feita uma rápida introdução ao Open Access, discutindo a dificuldade de muitos em absorverem os fundamentos do OA, para em seguida descrever o perfil do reitor e mostrar quão rápido o Prof. Bernard Rentier conseguiu entender o OA, ainda que estivesse nos seus primórdios, o reitor percebeu que se tratava de uma solução inovadora para os problemas enfrentados em sua universidade, ainda como vice-reitor, responsável pela política de pesquisa e pelas bibliotecas da universidade.

A seguir o jornalista Richard Poynder inicia a entrevista propriamente dita, colocando questões iniciais ao reitor, de forma a fazê-lo se apresentar e mostrar como foi o começo de seus empreendimentos na ULG.

Em seguida, o jornalista indaga sobre o repositório e o mandato da ULG. Nesta parte, o reitor fala de sua motivação no desenvolvimento do ORBi e da adoção do mandato, jutificando a sua necessidade.

A seguir o Prof. Rentier fala dos incentivos necessários para que o ORBi realmente funcionasse como o depositário legal da produção científica da ULG. Ele mostra que os incentivos são estímulos naturais aos pesquisadores e, que a partir do momento em que estes experimentam o auto-depósito e, vêem os seus benefícios, as coisas tendem a se concretizar sem necessidade de qualquer castigo ou promessa. Os próprios pesquisadores entendem e são automaticamente convencidos dos benefícios proporcionados pelo auto-depósito e pelo repositório institucional.

A entrevista mostra que a construção e implantação de um repositório institucional, acrescido de um mandato é uma tarefa plenamente viável. Aliás, uma tarefa que exige baixíssimo investimento, mas infelizmente essa questão não foi abordada. Devo dizer que o investimento é praticamente zero, uma vez que os aplicativos para criação de um repositório institucional já existe e utiliza pacotes de software open source, portanto, software livre de custos. A tecnologia já é totalmente dominada e existem diversas metodologias prontas para serem utilizadas. Portanto, não existe qualquer complicação ou dificuldade. Entendo que esse empreendimento é dependente, especialmente, da boa vontade dos dirigentes universitários ou governamentais, em alguns países.

Um outro ponto importantíssimo abordado pelo jornalista com o entrevistado foi tentar desvendar qual era o argumento essencial para o OA. O Richard Poynder põe o dedo na ferida indagando ao reitor: existem cerca de 10 mil universidades ao redor do globo terrestre, por que somente a ULG e algumas outras poucas universidades perceberam a importância do OA para as suas comunidades acadêmicas? Eu iria mais longe, por que majoritariamente as universidades de países desenvolvidos aderiram ao OA, enquanto universidades de países em desenvolvimento, como o Brasil, raramente, tem aderido ou vem aderindo mais preguiçosamente? Uma excelente questão para discussão.

A entrevista entra, neste ponto, em um outro tema muito polêmico: Via Verde x Via Dourada. Conforme vem sendo discutido, internacionalmente, e indicam relatórios de estudos recentes, a Via Verde é a estratégia preferencial e que certamente levará à implantação universal do OA.

A entrevista mostra que Bernard Rentier não se contenta apenas em empreender a implantação da estratégia da Via Verde em sua universidade, ele é hoje o presidente da EOS – Enabling Open Scholarship, uma organização não governamental criada para convencer reitores e outro dirigentes a aderirem ao OA e empreender as estratégias do OA em suas universidades ou Países.

Finalmente, Richard Poynder conclui a entrevista com chave de ouro, comentando e mostrando algumas habilidades pessoais do reitor e Prof. Bernard Rentier, coloca a cereja no bolo, declarando: Não apenas uma mudança, mas uma revolução global.

junho 22, 2011 Posted by | Entrevista | , , , , | 6 Comentários

Via Verde x Via Dourada Parte VIII – Entrevista concedida pelo reitor Bernard Rentier ao jornalista Richard Poynder

RP: Você está particularmente associado à estratégia da via Verde do OA. Quais são os seus pontos de vista sobre os prós e contras das duas estratégias: Via Verde e Via Dourada?
BR: A estratégia da Via Verde do OA fornece resposta imediata às necessidades da universidade, e dá visibilidade imediata aos pesquisadores de uma instituição. Se a estratégia da Via Verde crescer de forma constante, como está fazendo atualmente, ele irá conduzir à Via Dourada do OA. Então, para mim a Via Verde é um caminho para o OA, mesmo que seja difícil de avaliar o tipo de linha de tempo enfrentaremos

RP: Os editores muitas vezes argumentam que a estratégia Via Verde do OA ameaça tanto os seus negócios individuais como as publicações acadêmicas/científicas em geral, particularmente se um grande número de artigos são colocados em acesso livre sem um período de embargo adequado. Você concorda que existem perigos aí? Em caso afirmativo, como podem ser evitados?
BR: Eu não acredito que seja o caso. Alguns exemplos demonstram isto. Certamente, para editores regionais, particularmente, em línguas locais como o francês, é uma grande vantagem.
Por exemplo as editoras de nossa universidade, que eram, naturalmente, inicialmente fortemente contrária à minha política de leitura livre, percebeu que o mandato verde OA (ou seja, depositar as publicações em repositórios como ORBI) serviu para ampliar seu perfil em outros países de língua francesa, tais como: a França, Suíça e Canadá/Quebec.
Este por sua vez, aumentou o número de assinaturas junto a pessoas que querem folhear a revista inteira, em vez de apenas ler um artigo único que eles encontraram no ORBI. Este é um efeito inesperado e indireto, mas demonstra que a tornar artigos acessíveis livremente não prejudica as vendas. Pelo contrário, aumenta a sua visibilidade fora dos mercados tradicionais.

RP: Em sua visão, qual é o período ideal de embargo?
BR: Pelas razões que descrevi acima, não vejo necessidade de qualquer tipo de embargo. Até hoje, este ponto não foi entendido pelos editores. Eles devem ver a disponibilidade imediata de um artigo, em acesso livre, como um trailer para a venda da revista completa. No entanto, reconheço que os editores verão isto como uma estratégia arriscada, por isso os benefícios terão de ser demonstradas ao longo do tempo. Nesse meio tempo, eu diria que um embargo de seis meses é razoável.

RP: A ULG apoia a estratégia Via Dourada?
BR: Não de uma forma muito coercitiva. No entanto, oferecemos a oportunidade de publicar trabalhos em OA diretamente através do PoPuPS.

RP: Isto seria o Portal for the Publication of Scientific Journals? Eu estaria correto em pensar que PoPuPS é uma plataforma de publicação desenvolvida para permitir aos pesquisadores da ULG publicar seus próprias periódicos?
BR: Sim. Já existem 13 revistas aderentes à estratégia Via Dourada do OA em linha. E desde 2006 operamos também um programa chamado Bictel/e. Este é um repositório de teses da ULG. Todas as nossas iniciativas OA estão descritos na web.
A propósito, nós apoiamos também, financeiramente, quaisquer autores que queiram publicar em revistas de acesso livre, tais como aqueles publicados pelo BioMed Central (BMC).

RP: Você quer dizer que a Universidade de Liège tem um fundo de apoio à OAVia Dourada OA, ou que se inscreve em programas de afiliação operados por editoras OA como BMC, que permite que pesquisadores publiquem em revistas OA, sem qualquer custo para si mesmos, ou pelo menos a uma taxa reduzida?
BR: Nós temos um fundo OA limitado, mas nós, de fato, compramos opções de desconto junto ao BMC, e usamos o fundo para apoiar os nossos pesquisadores que publicam em revistas do BMC.

junho 18, 2011 Posted by | Entrevista | , , , , , , , , | 1 Comentário

Argumento essencial para o OA – Parte VII – Entrevista concedida pelo reitor Bernard Rentier ao jornalista Richard Poynder

Richard Poynder

RP: Disseram-me que há cerca de 10.000 universidades/centros de pesquisa no mundo. De acordo com o sítio ROARMAP existem apenas cerca de 120 mandatos institucionais. O que a Universidade de Liège – e as outras instituições que estabeleceram seus mandatos – perceberam que a grande maioria das instituições de ensino superior e de pesquisa parecem ainda não terem percebido?

Bernard Rentier

BR: Francamente, eu não sei. Talvez a diferença resida no grau de preocupação
sentido pelo(s) dirigente(s) universitário(s) e sua habilidade, paciência e teimosia em persuadir seus autores a jogar o jogo. Então, talvez se possa dizer que a diferença está
na capacidade da instituição em fazer da filosofia OA um grande valor moral a que a maioria dos seus membros se sintam capazes para se inscrever. No início aqui na ULG a adesão foi baixa e a resistência foi muito forte. Qualquer pretexto era considerado bom o suficiente para não participar.
Mais recentemente, comecei a receber comentários positivos freqüentes sobre quão agradável e inesperadamente útil é a ferramenta repositório.

RP: Acho que isso nos diz que os dirigentes de universidade precisam ser persistentes na defesa do OA. Mas diga-me, quando você fala sobre o “grau de
preocupação” sentido por dirigentes universitários, que tipo de preocupação você está se referindo? Dito de outra forma, qual é o argumento essencial para o OA a partir da perspectiva do dirigente de uma universidade?
BR: Preocupação com o custo de periódicos acadêmicos/científicos; preocupação em ter um inventário da produção da universidade; e preocupação em ter uma vitrine do desempenho da pesquisa da universidade.

RP: Um número de agências de fomento à pesquisa também adotou mandatos OA aderrentes à Via Verde, e alguns criaram seus próprios repositórios centrais – por exemplo, PubMed Central. Você saúda estas iniciativas?
BR: Estabelecer seu próprio repositório é certamente uma coisa útil para uma agência de fomento. É absolutamente essencial para que eles possuam cópias de toda a literatura produzida a partir da pesquisa que financiaram. Mas esta será sempre uma coleção incompleta do corpus, uma vez que conterá somente os resultados da pesquisa que eles próprios financiaram. Apenas repositórios institucionais podem fornecer cobertura completa.

RP: Essencialmente, você está falando sobre a diferença entre tentar criar um sistema centralizado (quando não há nenhuma autoridade central), em vez de explorar a natureza em rede da Web para criar (1) um modelo distribuído com base na agregação ao invés de (2) centralização. Você está dizendo que o último (1)
inevitavelmente proporciona um retrato mais completo?
BR: Sim. E por esta razão repositórios das agências de fomento devem realmente
Ter um único objetivo, o de colher metadados a partir de repositórios institucionais. Para isso, é claro, seus repositórios terão de ser compatíveis com repositórios institucionais (RI), o que significa que RIs também precisam ser construídos com os padrões reconhecidos, e obedecer a certas regras.
Por exemplo, precisamos desenvolver padrões bem definidos para que as publicações depositadas, em RI, possam identificar qualquer agência de fomento que tenha dado apoio aos pesquisadores que as produziram.

RP: Os governos têm um papel a desempenhar para facilitar o OA? Em caso afirmativo, qual o papel?
BR: Se eles financiam pesquisas, sim. Da mesma forma, se eles operam esquemas de avaliação de pesquisa para ajudá-los a decidir que subsídios oferecer a instituições de pesquisa também têm um papel a desempenhar.

RP: Estou certo em pensar que você espera persuadir o Fundo Nacional de Pesquisa da Bélgica a considerar a adoção de um mandato OA verde?
BR: Absolutamente, sim. E eu gostaria de vê-lo diretamente conectado com a sua elegibilidade para concessões futuras.

junho 17, 2011 Posted by | Entrevista | , , , , , , , | 1 Comentário

Enabling Open Scholarship – Parte IX – Entrevista concedida pelo reitor Bernard Rentier ao jornalista Richard Poynder

RP: Você também é presidente da organização Enabling Open Scholarship (EOS), que foi lançado em setembro de 2009. Qual é o propósito e missão da EOS, e quais os resultados obtidos até hoje?
BR: A EOS se propõe a convencer os dirigentes universitários de todo o mundo da necessidade do acesso livre (OA) e ensiná-los a como proceder.
Além de algumas “conversões” não temos tido muito sucesso, até agora. Mas só muito recentemente a EOS tornou-se pessoa jurídica de direito belga (na verdade, o processo não está totalmente concluído até o momento), então as nossas actividades têm sido um pouco limitadas até esta dara.

RP: O que os dirigentes de universidade precisam saber sobre o OA, e como a EOS procede?
BR: Eles têm que entender o quanto é importante, para a sua instituição, se libertar do pesado fardo de pagar demais para manter as coleções de revistas científicas em suas bibliotecas, especialmente à luz da atual explosão nos preços de assinaturas dessa publicações.
E eles têm que entender que seus pesquisadores produzem, controlam a qualidade e consumem conhecimento. Mas enquanto esses pesquisadores contribuem em todas as três etapas do processo, as instituições acabam pagando pelo conhecimento, pelo menos duas vezes.

RP: Você quer dizer que as instituições de pesquisa (muitas vezes financiadas pelos governos) criam o conhecimento, em primeiro lugar, seus pesquisadores, então, produzem os documentos e realizam a revisão pelos pares, mas as instituições têm que comprar de volta o conhecimento dos editores na forma de assinaturas de revistas?
BR: Exatamente! Os dirigentes de universidades também precisam perceber que a Via Verde do OA é o caminho para se alcançar a Via Dourada do OA. E eles devem ver o benefício para os seus pesquisadores e para a sua instituição ao colocar à sua disposição, uma vitrine para o seu trabalho, depositando-os em seus RI. É inconcebível nos dias de hoje que uma instituição possa permanecer Inconsciente da maioria da produção de suas próprias pesquisas publicadas. Nenhuma fábrica iria aceitar isso. Aqueles que não têm interesse em OA, por si só, deveriam pelo menos ver o valor em uma universidade da manutenção de um inventário do trabalhos que produz.
Finalmente, eles devem compreender que o RI pode agregar uma grande contribuição para a reputação da sua instituição.

RP: Que tipo de resposta que você obtem de suas contrapartes em outras universidades, quando você fala a eles sobre o OA?
BR: Cinco anos atrás, eu costumava ter uma recepção muito positiva. Eu diria que era barulho demais – e para que benefício?
Hoje, no entanto, há um grande interesse – na Bélgica, França, Itália, Espanha e Portugal, até o momento.
Outros reitores e vice-chanceleres devem agora todos se unirem para que o movimento torne-se irresistível.

junho 16, 2011 Posted by | Entrevista | , , , , , , , , | 1 Comentário

Entrevista realizada por Richard Poynder (RP) com o reitor Bernard Rentier(BR)… Parte V – Incentivo

Richard Poynder

Segue a entrevista, na sua parte V, enfocando o tema INCENTIVO, muito interessante.

RP: Então, o mandato tornou obrigatório, à todos os pesquisadores da Universidade de Liège (ULG), o depósito de seu trabalho no ORBi?
BR: O mandato é na realidade um mandato “falso”. Nada acontece para aqueles que não depositam suas publicações no ORBi.

RP: Mas você fornece algum tipo de incentivo aos pesquisadores para cumprí-lo?
BR: O que acontece é que quando tomamos decisões sobre a promoção de um pesquisador, ou a concessão de uma subvenção, só levamos em consideração as publicações que o pesquisador depositou no ORBi. Todos os funcionários são informados de que as publicações apresentadas em qualquer outro meio (papel, disco, email, etc) não podem mais ser tratados em nosso novo sistema. Ou seja, apenas os documentos depositados são considerados para fins de avaliação de desempenho.

RP: Então, hoje, o ORBi é o único mecanismo, por intermédio do qual, os pesquisadores da ULG podem submeter os seus artigos para avaliação de desempenho?
BR: Correto. Isto significa que todos os pesquisadores estão ansiosos para ver o repositório alimentado, na medida em que o seu próprio trabalho está em causa, no mínimo. Mas não se trata apenas de uma questão dos pesquisadores se preocuparem com a possibilidade de serem subvalorizados ou desconsiderados publicamente. Como você diz, nós também fornecemos alguns incentivos fortes para estimular o cumprimento do mandato.

RP: Você poderia dizer algo mais sobre esses incentivos?
BR: O ORBi publica permanentemente estatísticas atualizadas de downloads – uma espécie de “hit parade”, se você prefere, – mostrando quais são os artigos que são mais baixados, e que autores são mais freqüentemente consultados. Nós também fornecemos links diretos para quaisquer citações induzidas por esses artigos.
O relatório, que é gerado automaticamente pelo ORBi, é apresentado de forma lógica, clara e em conformidade com os valores tradicionais de importantes áreas de pesquisa. Também pode ser usado para gerar uma lista de publicações para CV, podendo ser atualizado e impresso a qualquer momento em formato definido pelo autor.
Como resultado disto, temos sido capazes de demonstrar aos nossos autores que o sistema foi, realmente, projetado para o seu próprio benefício, e de maniera a aumentar a sua visibilidade e leitores.
Assim, há uma série de vantagens, óbvias, para os pesquisadores depositarem os seus artigos no ORBi: o repositório lhes proporciona um meio de divulgar seu trabalho, de graça, para todo o mundo e oferece-lhes um arquivo seguro e permanente (tanto para seu trabalho em curso como para a sua obra completa), e fornece um lugar onde eles podem postar seus dados de apoio inéditos, não publicados (e impublicáveis).
Ele fornece um ponto único de entrada, mas várias opções de saída, permitindo, os pesquisadores, gerar CVs, listas de publicações etc; e fornece uma ferramenta para avaliar a qualidade da sua pesquisa, e uma eficiente ferramenta de marketing pessoal.

RP: O mandato da ULG se aplica apenas aos artigos publicados em revistas, ou inclui livros, apresentações e outras formas de apresentação de resultados de uma pesquisa?
BR: O nosso mandato é composto de dois elementos:

1. As referências (metadados) de todas as publicações de todos os autores da ULG, publicados desde 2002, devem ser depositados no ORBi;
2. O texto completo de todos os artigos científicos publicados desde 2002 e todas as teses de doutorado devem ser depositados. Para os artigos mais velhos e para outros tipos de publicações (capítulos, livros, etc) é opcional (Na prática, os autores geralmente depositam mais texto completo do que o necessário!)

Dito isto, todas as categorias de publicação são bem-vindas, embora a classificação para fins de avaliação de desempenho seja extremamente rigoroso. Um resumo de conferência ou um livro popular, por exemplo, não pode ser incluído em uma lista de artigos, revisado por pares, em revista internacional.
Assim, muitos tipos diferentes de trabalho podem ser depositados, mas cada item é claramente reconhecido e rotulado para o que é.
Com certeza, a minha esperança é que muitos outros tipos de informações sejam armazenados no ORBI – incluindo dados brutos, resultados negativos, os resultados não publicados ou impublicáveis, etc. Na verdade, os dados brutos já podem ser depositado. É o que chamamos de “material adicional”, e pode ser carregado pelos autores com o acompanhamento de seu texto integral.
Mas o importante é rotular as coisas de forma adequada.

RP: Os dados de depósito que você forneceu sugerem que há cerca de 25.000 registros no ORBi que não incluem o texto completo? Isso é problemático?
BR: Esse número está correto. Cerca de 60% estão disponíveis em texto completo, e cerca de 50% desdes são OA disponíveis. Mas os itens não-texto completo podem ser resumos de conferências, ou podem ser obras que foram publicadas antes de 2002. Como eu disse, nosso mandato exige que qualquer pesquisa publicada depois de 2002 deve incluir o texto completo, mas artigos anteriores podem ser apenas resumos.

RP: Mandatos tendem a variar em suas exigências. Que mandato, na sua opinião, é o ideal?
BR: O meu!

RP: Por quê?
BR: Porque ele não impõe sanções a qualquer pessoa que escolhe ser refratário, ou resistir e não atender ao mandato. Claro, eles não podem esperar qualquer ajuda ou apoio da instituição, e eles se sentirão subestimados pelas autoridades, pelos seus colegas, por pesquisadores externos, e pelo público em geral. Essa é a única consequência em não depositar. Contudo, isto geralmente fornece o estímulo suficiente para incentivar todo mundo a cumprir o mandato.
O outro ponto a destacar é que o repositório é totalmente público, e ainda acessível diretamente através de um link a partir do diretório de pessoal. Ninguém quer que as pessoas pensem que eles não publicaram nada, ou que publicaram menos do que eles realmente escreveram, sozinhoa ou co-autoria.

RP: o estabelecimento de um mandato OA foi resultado de uma iniciativa pessoal sua?
BR: Sim, foi.

junho 15, 2011 Posted by | Entrevista | , , , , , , | 1 Comentário

Entrevista, em português, de Bernard Rentier ao jornalista Richard Poynder, Parte IV – Repositório e mandato

Richard Poynder

Continuando, essa parte da entrevista deve interessar, em especial, os gestores ou coordenadores de repositórios institucionais. A entrevista mostra como ORBi tornou-se uma das iniciativas mais bem sucedidas entre os RI em todo o mundo.

RP: Em maio de 2007 a Universidade de Liège decidiu criar o seu repositório institucional, chamado ORBi, que foi ao ar em novembro de 2008. Qual era o objetivo?
BR: ORBi foi criado com as seguintes finalidades:

1.Contribuir para o OA, tornando, gratuitamente disponível, em linha, toda a literatura produzida pela Universidade de Liège (ULG);
2.Fornecer à Universidade – pela primeira vez – um catálogo completo de todas as publicações produzidas por seus pesquisadores;
3.Fornecer à Universidade uma vitrine permanente e atualizada da sua produção científica;
4.Oferecer aos nossos cientistas uma melhor chance de serem lidos e citados.

RP: Em meu entendimento, o ORBI revelou-se uma iniciativa muito bem sucedida, acumulando mais de 30.000 referências bibliográficas e mais de 20.000 textos completos em um espaço de tempo de 14 meses do seu lançamento. Quais são os números atuais?
BR: Hoje, existem 62.207 referências e 37.497 publicações em texto completo. Os números são atualizados constantemente na primeira página do ORBi.

RP: O sucesso do ORBi se deve, talvez, ao fato de a Universidade ter estabelecido um mandato de auto-arquivamento. Isto requer que todos os pesquisadores da universidade depositem cópias de seus trabalhos de pesquisa no ORBi. Você pode dizer algo sobre as especificidades deste mandato, e por que ele foi introduzido?
BR: Foi introduzido, porque eu sabia que sem ele o repositório, mesmo nas melhores circunstâncias possíveis, eventualmente só atrairia 5-10% das publicações alvo.
Este é um fato bem demonstrado. Por exemplo, meus colegas da ULB, em Bruxelas, não têm mandato, e seu RI tem 56.669 referências dos quais apenas 7.517 são documentos em texto completo.

RP: Pelo que entendi, o mandato da Universidade de Liège é o que o defensor do OA, Stevan Harnad, chama de mandato Depósito Imediato / Acesso Opcional (ID/OA)? Ou seja, a Universidade espera que todos os artigos produzidos por seus pesquisadores sejam depositados no ORBi, mas se o editor insiste no embargo do artigo, este pode ser depositado, com o tipo de acesso “acesso restrito”, até que o embargo se expire. Isso garante que mesmo quando um trabalho seja embargado a Universidade tenha a sua própria cópia, a qual ela pode usar internamente. E uma vez que os detalhes bibliográficas estão disponíveis gratuitamente na Web outros pesquisadores podem contatar o autor e pedir para ser enviado um reprint? (nota do blogueiro: reprint é o termo utilizado para a cópia da versão final do artigo publicado em uma revista, usualmente as revistas enviam para o autor essa cópia)
BR: Exatamente, é um mandato ID/OA. E, a política do embargo é a que vc descreve.

RP: Que porcentagem da produção científica total da ULG é depositada, hoje, no ORBi?
BR: É muito difícil dizer. Primeiro, não sabemos (e nunca se soube!) Quantas pesquisas realmente produzimos. Então ORBI nos fornece uma oportunidade para descobrí-lo, pela primeira vez.
Em segundo lugar, alguns autores têm alimentado o ORBI com toda a sua produção publicada, que pode consistir em décadas-merecidas de trabalho. Outros ainda têm um registro muito incompleto. Mas o nosso mandato vai garantir que o repositório seja finalmente preenchida.

junho 15, 2011 Posted by | Entrevista | , , , , , | 4 Comentários

Entrevista, em português, de Bernard Rentier ao jornalista Richard Poynder, Parte III – Como começou…

A seguir, finalmente, a entrevista propriamente dita:

RP: Qual a sua função na Universidade de Liège?
BR: Eu sou o reitor, ou seja, algo como vice-reitor e presidente do Conselho ao mesmo tempo.

RP: Você poderia dizer alguma coisa sobre a Universidade de Liège (ULG), tais como: número de estudantes, número de professores, interesses em pesquisa, etc?
BR: A universidade tem 20.000 alunos, e é uma universidade completa. Existem 11 faculdades e 4.500 funcionários, dos quais 600 são professores.

Além disso, temos também um hospital universitário (com outros 4.500 funcionários). E temos ainda a única faculdade de Medicina Veterinária na parte francofônica da Bélgica.

No total há 2.800 professores na ULG, com mais ou menos 1000 no hospital universitário. Nossa pesquisa é excelente, e nos especializamos em tecnologia espacial, biotecnologia, medicina, ciência ambiental, agronomia e medicina veterinária.

RP: Você é um defensor do OA (Acesso Livre). Quando você se tornou defensor, e por quê?
BP: Eu me interessei pelo tema em 1997, quando me tornei vice-reitor e fui encarregado da política de pesquisa científica e das bibliotecas. Eu me tornei um defensor progressivamente.

RP: Então não houve um momento Eureka. Mas, talvez, tenha existido um momento no qual vc, de repente, viu a logica e a necessidade do OA?
BR: Houve definitavamente esse momento. Ocorreu logo no início quando a moça encarregada da biblioteca de ciências me contou sobre, o agora denominado, movimento OA, o qual era ainda bem recente e não havia ainda uma denominação.

RP: Em que ano isto aconteceu?
BR: Não me lembro exatamente, mas isto teria sido por volta de 1998 ou 1999.

Mas, era, imediatamente, óbvio para mim que esta era a abordagem lógica a desenvolver, especialmente, considerando a nova tecnologia que era então emergente tornava-a inteiramente possível, embora aquela tecnologia não fosse obviamente tão desenvolvida como o é agora.

RP: Os bibliotecários têm estado na vanguarda do movimento OA. Você acha que isso é porque são eles encarregados de pagar as assinaturas, sempre crescentes das publicações especializadas, ou é simplesmente porque os bibliotecários são naturalmente progressistas?

BR: Eu não quero ser tão assertivo sobre isso, ou fazer generalizações indevidas! Alguns bibliotecários são naturalmente progressistas. Certamente, nós selecionamos nosso bibliotecário chefe Thirion Paul – que foi instrumental no desenvolvimento da nossa política de documentação e idealizador da iniciativa ORBI – por causa de seu espírito progressista. Em termos mais gerais, eu diria que os bibliotecários não podem ser apenas serem progressistas: às vezes eles também têm que ter uma abordagem mais conservadora. A boa preservação exige uma abordagem conservadora. No entanto, como eu a entendo, executando um RI exige tanto respeito pelo passado, assim como, mais inovação e ousadia.

junho 15, 2011 Posted by | Entrevista | , , , , | 1 Comentário

Entrevista, em português, de Bernard Rentier ao jornalista Richard Poynder, Parte II

Este post é continuação da introdução feita pelo jornalista Richard Poynder à entrevista com o prof. Bernard Rentier, reitor da Universidade de Liège (ULG).

Com o propósito de estimular os pesquisadores da Universidade de Liège (ULG) a depositarem os seus artigos em um repositório institucional (RI), Rentier supervisionou a sua criação, denominando-o de ORBi – Open Repository and Bibliography. ORBi entrou em funcionamento em Novembro de 2008. Pesquisadores da ULG foram convidados a depositarem todos os seus artigos neste RI. Para ajudar a convencê-los a fazê-lo Rentier lançou o seu próprio blog, e iniciou uma campanha de encorajamento e exortação aos pesquisadores da ULG.

Além disso, determinou que o ORBi deveria capturar todas as pesquisas que vêm sendo produzidas na universidade. Rentier também introduziu um mandato de auto-arquivo – exigindo que todos os pesquisadores da ULG depositem os seus trabalhos no Orbi.

Para motivar ainda mais o cumprimento do mandato, Rentier anunciou que o depósito de documentos no repositório seria o único mecanismo a ser considerado para a avaliação de desempenho dos pesquisadores.

Catorze meses depois de seu lançamento, o ORBI já tinha acumulado 30 mil referências bibliográficas, e mais de 20.000 documentos em texto completo.

Hoje, o ORBI é o repositório institucional mais ativo, entre seus similares, no mundo (primeiro do ranking de 1418 RIs). Os pesquisadores da ULG estão começando a ver os benefícios de ter aderido à estratégia da via Verde do OA, tanto em termos de citações e aumento de prestígio, quanto em termos da emoção de ver alguns de seus artigos mais velhos começarem, como diz Rentier, “a viver uma nova vida”.

Mas Rentier não é um homem que se contente em ver o OA implementado em sua própria universidade, tão somente. Ele quer que a comunidade científica em geral aproveite as oportunidades que o OA oferece. Para esse fim, ele também assumiu a presidência da Enabling Open Scholarship (EOS).

Fundada em 2009, o EOS tem como objetivo convencer reitores, vice-reitores de universidades, de todo o mundo, dos benefícios do OA (Acesso Livre), e ensiná-las a melhor forma de alcançá-lo.

Ele também está tentando convencer o Fundo Nacional de Pesquisa da Bélgica a adoptar um mandato via verde, que exigiria que todos os trabalhos resultantes de pesquisas financiadas por este fundo, tornem-se de acesso livre.

Rentier não foi o primeiro dirigente sênior da academia a introduzir um mandato de acesso livre aderente à via verde (os aplausos devem ser dirigidos também a Tom Cochrane, vice-reitor da Universidade de Tecnologia de Queensland, na Austrália, que introduziu o primeiro mandato do mundo universitário em 2004). No entanto, segundo Harnad, “Bernard é o primeiro reitor/VC a entender completa e totalmente como agir com o OA”.

Ele acrescenta ainda que “Bernard entendeu e implementou precisamente o mandato correto na Universidade de Liège (Depósito Imediato/Acesso opcional vinculado a avaliação de desempenho) e, além disso, assumiu imediatamente a liderança em políticas OA para universidades, não apenas na Europa mas em todo o globo terrestre.”

Em suma, Bernard Rentier não é um entusiasta de poltrona do acesso livre, ele é um defensor enérgico, que se mostrou capaz e disposto de instituir a mudança em sua casa e no exterior. Na verdade, segundo Rentier, não é apenas uma mudança que ele busca, mas “uma revolução global” na comunicação científica.

No próximo post apresentarei parte da entrevista realizada por Richard Poynder com o reitor, prof.Bernard Rentier.

junho 14, 2011 Posted by | Entrevista | , , , , , | Deixe um comentário

Entrevista, em português, de Bernard Rentier ao jornalista Richard Poynder, Parte I

Conforme havia dito, farei a tradução da entrevista concedida pelo reitor da Université de Liège (ULG), prof. , ao jornalista Richard Poynder. Trata-se de uma entrevista fantástica, na qual o prof. Bernard Rentier mostra a sua visão empreendedora, de homem público, de cientista e, principalmente, de um dirigente de universidade e que poderia ser, eventualmente, também dirigente de uma instituição como o Ministério da Ciência e Tecnologia, ou Ministério da Educação, ou da Capes ou do CNPq. A entrevista é muito longa, ao todo são 15 páginas de papel no formato carta. Só de introdução feita pelo jornalista Richard Poynder são duas páginas. Assim, neste primeiro post, apresento apenas a tradução da primeira página. Leiam.

O que é notável sobre o Open Access (OA) é o fato de ser, obviamente, o caminho certo e racional para a comunidade científica responder ao mundo em rede. De fato, pode-se descrevê-lo apropriadamente como um acéfalo – ou, como diz o advogado do OA, Stevan Harnad: OA é a “ciência capa de chuva ” (“Está chovendo, meninos, vocês estão se molhando: é hora de colocar suas capas de chuva! “).

O que é estranho, sobre OA, é que tão poucos na comunidade científica parece não ter compreendido (ou pelo menos aceito) a sua inevitabilidade. Essa miopia não é, indubitavelmente, um acidente – muitos têm interesse no status quo, enquanto outros instintivamente têm medo da mudança e uma aversão irracional ao novo.

Consequentemente, o que é certamente “inevitável e ótimo” foi adiado por mais de uma década e meia. Enquanto o OA universal poderia, em teoria, ser percebido, em apenas uma noite, estima-se que apenas 30% da literatura científica/acadêmica esteja livremente disponível na web.

Felizmente alguns conseguem captar no momento em que o conceito é explicado a eles – como fez Rentier Bernard, professor de virologia e imunologia da Universidade de Liège (ULG), em 1998.

Rentier tinha sido nomeado vice-reitor responsável pela política de pesquisa científica e das bibliotecas na ULG no ano anterior – uma posição que, inevitavelmente, concentrou sua mente professoral em uma série de problemas para os quais OA tornou-se a solução. Isso ficou claro para ele durante uma conversa que teve com um bibliotecário, que introduziu o conceito existente por trás do movimento OA, então incipiente.

“Foi, imediatamente, óbvio para mim que esta era a abordagem lógica a tomar”, diz Rentier, “, especialmente porque a nova tecnologia que estava surgindo, em seguida, tornou-se inteiramente possível.”

Para começar, diz Rentier, ele viu que OA poderia ajudar a aliviar a crise seriados – um fardo indesejável sobre as universidades que a cada ano vê pedaços cada vez maiores de seus orçamentos para biblioteca sendo engolidos pelo aumento dos preços das assinaturas de revistas.

Ele também percebeu que tornando os seus artigos disponíveis livremente na web, os pesquisadores da ULG poderiam incrementar tanto o impacto como a sua visibilidade dentro da comunidade científica global – algo que todos os seus pesquisadores e suas instituições desejam.

Finalmente, Rentier pôde ver que OA permitiria à ULG demonstrar ao mundo a qualidade da pesquisa que seus cientistas desenvolviam e, portanto, melhorando a sua reputação institucional.

O que foi especialmente fortuito, sobre a conversa com Rentier sobre OA, é que ele é um homem com uma energia e entusiamo ilimitados, e em posição de criar uma mudança mais eficaz do que muitos defensores da OA – especialmente depois que ele foi eleito Reitor da ULG em 2005.

Naquele momento, Rentier concluíu que, embora a estratégia Dourada (edição OA) pudesse vir a ser uma boa solução a longo prazo, a melhor estratégia à curto prazo era abraçar a estratégia Verde (auto-arquivamento). Em outras palavras, em vez de aconselhar os pesquisadores a procurar uma editora OA, ou revista de acesso livre, para publicar seus artigos, era melhor incentivá-los a continuar publicando normalmente e fazer com que todos os seus artigos fossem disponibilizados gratuitamente na Web, por meio do auto-arquivamento.

Vale lembrar que o prof. Rentier teve seu primeiro contato com o OA em 1998, portanto, 10 anos antes de um artigo publicado na coluna Tendência/Debates em 21/01/2008, do jornal Folha de São Paulo, no qual se apresenta uma visão distorcida do OA. É incomparável o brilhantismo e a percepção do prof. Rentier.

junho 14, 2011 Posted by | Entrevista | , , , , | 4 Comentários

   

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