Acesso Livre em manchete: dois eventos no segundo semestre de 2014
Aos colegas que acompanham o Blog do Kuramoto, uma excelente notícia: No segundo semestre, no mês de outubro teremos dois eventos relativos ao Open Access, ambos em países de língua portuguesa, portanto, não hvaerá desculpas para não participar, especialmente, porque um deles será realizado no Brasil, trata-se da “Conferência Internacional Acesso Aberto, Preservação Digital, Interoperabilidade, Visibilidade e Dados Científicos”, que será realizada em Porto Alegre, nos dias 15 a 17 de outubro de 2014, onde será realizados a IV Conferência Internacional sobre Bibliotecas e Repositórios Digitais (BIREDIAL 2014) e o IX Simpósio Internacional de Bibliotecas Digitais (SIBD 2014). É a quarta vez que os dois eventos se realizam conjuntamente e neste ano a Universidade Federal do Rio Grande do Sul abrigará esse interessante e importante evento, que trata tanto da bibliotecas digitais, quanto de temas como a preservação digital, a interoperabilidade, a visibilidade dos dados científicos, portanto, são temas que se englobam pelo Open Access e Open Data. Devido à exigüidade de eventos tratando dessa temática, Trata-se de uma grande oportunidade para que os nossos colegas apresentem trabalhos relacionados a essas duas temáticas e aos subtemas apresentados acima.
Por outro lado, o nosso colega Eloy Rodrigues, como tem feito a cada dois anos, está organizando 5o. CONFOA – Conferência Luso-brasileira sobre Acesso Aberto que, nesse ano será realizado em Coimbra, no Auditório da Reitoria da Universidade de Coimbra, nos dias 06 a 08 de outubro de 2014, portanto, há pouco menos de duas semanas antes do evento de Porto Alegre, datas que não são impeditivas de se apresentar trabalhos em ambos os eventos. Da mesma forma que o evento em Porto Alegre, este de Portugal trata de temas correlatos a bibliotecas digitais mas, tendo o Open Acces como corte principal, senão vejamos:
– Repositórios de publicações científicas;
– Redes de repositórios de publicações científicas;
– Revistas científicas de acesso aberto;
– Repositórios de dados científicos;
– Políticas e mandatos de acesso aberto;
– Interoperabilidade entre os repositórios e outros sistemas de informação de apoio à atividade científica e académica;
– Sistemas de gestão da Ciência e Tecnologia (CRIS);
– Preservação digital;
– Direitos de autor;
– Acesso aberto, bibliometria e métricas alternativas.
Foi dada a partida…é o início do Acesso Livre na UFMG
O I Simpósio sobre o Acesso Livre na UFMG transcorreu dentro daquilo que se esperava, uma reunião para se discutir as iniciativas de repositórios digitais e as revistas científicas na UFMG. Na foto acima, compuseram a mesa de abertura do evento, na qual se pode verificar a presença, da esquerda para a direita, do diretor da BU e do SB da UFMG, bibliotecário Wellington Marçal de Carvalho, Hélio Kuramoto ao microfone, a representante da pró-reitoria de pesquisa, profa. Dra. Marisa Mancini e finalmente, mais à direita, o prof. Dr. Ricardo Rodrigues, diretor da Escola Ciência da Informação.
Nesse contexto, foi muito boa a participação do público, no qual haviam pessoas provenientes de outros estados, além, claro, de dois dos palestrantes programados pela agenda do simpósio, a bibliotecária Caterina G. Pavão, responsável pelo repositório Lume da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e o ativista Raniere Silva (graduando em Matemática Aplicada pela Universidade de Campinas, instrutor da Software Carpentry e membro do Capítulo Brasileiro da Open Knowledge Foundation e evangelista do Acesso Livre e do Software Livre). Não posso esquecer de apresentar, ainda que provisoriamente o link para o relatório elaborado por Raniere sobre a realização desse evento. Esse relatório terá uma versão final. As fotos do evento poderão ser visas e apreciadas no Facebook.
Para aqueles que não tiveram condições de participar, estes poderão ter acesso aos vídeos que serão, oportunamente, disponibilizados no sítio da Biblioteca Universitária, cuja divulgação este blog se compromete a fazer em futuro bem próximo. É importante ressaltar que este mês e o próximo são meses que fecham o semestre e consequentemente o ano, fato que provocará um pequeno atraso nesse processo.
Foi uma grata surpresa perceber que a UFMG conta com diversas iniciativas relacionadas tanto aos repositórios digitais quanto a revistas científicas digitais. Isto significa que teremos muito trabalho pela frente para viabilizar e sua integração e disponibilização na web. Ou seja o primeiro passo, com vistas a inscrever a UFMG em rankings internacionais como a World Web Ranking of Repositories, foi dado. Isto significa que serão envidados esforços para que essa integração se concretize.
Assim como, em toda as grandes universidades, a diversidade de ações é também imensa. e não é surpresa a necessidade de sensibilização dos vários setores em busca de uma ação conjunta e integrativa. Enfim, foi dada a partida.
Este evento não ocorreria se não tivéssemos trabalhando conosco a assessora de comunicação da Biblioteca Universitária da UFMG, Carla Gomes Pedrosa, à quem dirijo o nosso muito obrigado e admiração pela garra e capacidade de comunicação.
Mais uma ação da indústria editorial científica comercial: o relatório FINCH
Sevan Harnad publica, em seu blog, matéria comentando o frustrado Relatório FINCH. Muito interessante a matéria, e que, a partir de agora, tomo a liberdade de emprestar tal matéria e publicá-la, neste blog, para conscientizar a nossa comunidade científica sobre as artimanhas utilizadas no discurso de combate às estratégias do Open Access. Segue a referida matéria.
O relatório FINCH, sob forte e palpável influência do lobby editorial científico, em vez de recomendar, ampliar e otimizar a liderança mundial do Reino Unido no uso da estratégia da via verde do OA – sem custos, por meio de mandatos de auto-arquivamento em repositórios institucionais e centrais (repositórios mantidos por agências de fomento), recomendou abandonar a referida estratégia, via verde, (Green OA) e, em vez de gastar dinheiro extra (£ 50-60 milhões anuais) para o pagamento de taxas aos editores, utilizando a via Dourada OA (Golden OA), bem como um cobertor do Reino Unido em taxa de licença de sítios nacionais para cobrir tudo o que não é ainda aderente à estratégia da via Dourada OA (ou seja, todas as revistas que as instituições do Reino Unido atualmente assinam, um pouco como os “Big Deal” dos editores comerciais tiveram sucesso de negociação com as instituições, individualmente, e via consórcios , como o do Portal de Periódicos da Capes):
A via Verde segundo o relaório FINCH: “As políticas aderentes à via VERDE, sejam aquelas promovidas por agências de fomento ou aquelas promovidas pelas universidades e institutos/centros de pesquisa, não tiveram, ainda, maiores efeitos no sentido de garantir que os pesquisadores tornem suas publicações acessíveis em repositórios institucionais…[então] a infraestrutura de repositorios institucionas/centrais deveria [em vez disso] ser desenvolvida para desempenhar um valioso papel complementar à publicação formal, particularmente no fornecimento de acesso aos dados de pesquisa e a literatura cinzenta, e na preservação digital (nenhuma menção da via VERDE)…”
A via Dourada segundo o relatório FINCH: A estratégia “Golden road” de acesso público, financiada por meio do pagamento de taxas de artigo, deve ser vista como “o principal veículo para a publicação de pesquisas” … agências de fomento públicas devem criar “mecanismos mais eficazes e flexíveis” para pagar [OA Gold] as taxas de artigo … durante a transição para [Gold] o acesso livre, o financiamento deve ser extendida as licenças [assinaturas], para conteúdo de acesso não-livre à todo o ensino superior do Reino Unido e sectores da saúde …
Agora, vejam abaixo, estão alguns números reais que estão por trás das afirmações acima. Deixo que os leitores tirem suas próprias conclusões sobre o relativo sucesso em termos de custos, benefícios, custo-efetividade, potencial de crescimento e um calendário de obrigatoriedade Verde OA vs financiamento Ouro OA. Para efeito de melhor visualização dos gráficos clique em cima deles para que sejam melhor visualizados.
1. Mandated vs Non-mandated OA Green:
2. Crescimento na adoção de mandatos via verde (OA Green)
3. Crescimento da adoção da via Verde por áreas do conhecimento
4. Crescimento da adoção da via Dourada, no período de 2003-2011 (Nature, 2012)
5. Crescimento projetado da via Dourada OA (70% in 2020 or 2026; 100% in 2022 or 2029):
6. Comparação do crescimento da adoção entre a via Dourada e a via Verde por área do conhecimento
7. Dados relativos de publicações, aderentes às estratégias, via Dourada e da via Verde, no Reino Unido
8. Vantagem relativa do impacto de citação de publicações OA sobre aquelas não OA
9. A vantagem econômica oferecida pelo OA ao Reino Unido
Referências Bibliográficas
Gargouri, Y., Hajjem, C., Lariviere, V., Gingras, Y., Brody, T., Carr, L. and Harnad, S. (2010) Self-Selected or Mandated, Open Access Increases Citation Impact for Higher Quality Research. PLOS ONE 5 (10) e13636
Harnad, S. (2007) The Green Road to Open Access: A Leveraged Transition. In: Anna Gacs. The Culture of Periodicals from the Perspective of the Electronic Age L’Harmattan. 99-106.
Harnad, S. (2010) No-Fault Peer Review Charges: The Price of Selectivity Need Not Be Access Denied or Delayed. D-Lib Magazine 16 (7/8).
Harnad, S. (2010) The Immediate Practical Implication of the Houghton Report: Provide Green Open Access Now. Prometheus 28 (1): 55-59.
Matéria publicada, sobre OA, no Jornal da Ciência
Poucos dias atrás, o Jornal da Ciência publicou matéria intitulada Brasileiros preferem publicar em revista tradicional às de livre acesso, na qual traz depoimentos de pesquisadores dando o seu testemunho, favorável ou não às revistas de acesso livre.
Segundo o prof da Unicamp, Anibal Vercesi:
“É importante publicarmos em revistas tradicionais, pois elas têm uma notoriedade maior, e a Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] está muito preocupada com o índice de impacto das publicações. Se o pesquisador não publica artigos em revistas com alto índice, ele não é considerado prestigiado na classificação do órgão, o que prejudica os alunos e o curso dele, pois cursos com classificação abaixo de 4 na avaliação fecham. Se eu tiver cinco artigos publicados na Nature, eu tenho portas abertas no mundo inteiro, o que não ocorre se publicar cinco trabalhos em revistas de livre acesso” O professor de física da USP-São Carlos, Carlos Vanderlei Bagnato, concorda: “Você tem que se preocupar em publicar em periódicos sérios e reconhecidos, porque, para nós, a credibilidade do trabalho vem com a publicação nessas revistas“.
Por outro lado, ele também destaca a importância da publicação de artigos nas revistas de livre acesso.
“Todo mundo quer ler trabalhos relevantes. Por isso, as pessoas procuram acessar publicações de boa reputação, e pelas quais não precisam pagar. Por isso, o ideal seria a gente unir essas duas características em revistas de acesso livre, que também são mais vantajosas para quem publica nelas, já que podem ser lidas por mais pessoas“
No entanto, o professor Bagnato contesta o fato de se publicar em uma revista de livre acesso não significa se livrar de qualquer tipo de cobrançca:
“Algumas cobram dos pesquisadores para publicarem seus artigos. Outras não, pois são mantidas por apoio governamental, por exemplo. De qualquer forma, sempre existe o custo de manter essas revistas, mesmo elas sendo virtuais, pois têm demandas, como o corpo editorial. Alguém tem que pagar”, esclarece Bagnato.
Na mesma matéria o prof. Vercesi diz:
“Algumas cobram dos pesquisadores para publicarem seus artigos. Outras não, pois são mantidas por apoio governamental, por exemplo. De qualquer forma, sempre existe o custo de manter essas revistas, mesmo elas sendo virtuais, pois têm demandas, como o corpo editorial. Alguém tem que pagar”, esclarece Bagnato.
O que se pode constatar nessa matéria é que há um tremendo desconhecimento das estratégias propostas pelo movimento Open Access. É preciso, assim, fazer uma correção no que se refere às estratégias promovidas pelo movimento Open Access: O movimento Open Access propôs no ano de 2001 duas estratégias: a VIA VERDE e a VIA DOURADA. A estratégia da VIA VERDE propõe que as universidades, os institutos de pesquisa criem os seus repositórios institucionais com o propósito de armazenar a produção científica de seus pesquisadores e professores. E, da mesma forma, que as agências de fomento criem os seus repositórios centrais com o propósito de armazenar a produção científica proveniente das pesquisas, por elas, financiadas. E, de forma complementar que essas instituições estabeleçam políticas visando disciplinar esses depósitos.
De forma complementar, os pioneiros participantes do movimento Open Access propuseram uma segunda estratégia para alcançar o acesso livre universal, a VIA DOURADA, que propunha aos editores científicos a criação e/ou conversão das revistas científicas comerciais para revistas científicas de acesso livre. A idéia é que as revistas fossem acessíveis livremente, à todos, sem o pagamento de assinaturas para que elas fossem lidas por mais pessoas. As duas vias foram definidas na mesma reunião dos participantes do movimento do acesso livre. Já faz algum tempo, diversos líderes deste movimento defendem que a estratégia da VIA VERDE seja a estratégia principal para se alcançar o acesso livre e que, à partir da implantação da VIA VERDE, em nível mundial, ter-se-ia o cenário ideal para se criar as revistas de acesso livre. O fato é que o custo para produção dessas revistas, nos dias de hoje, ainda é muito caro e os modelos de negócio utilizados, penalizam em demasia os autores devido ao alto custo cobrado por estas revistas. Verifica-se, assim, que essa matéria do Jornal da Ciência não foi muito feliz e faltou com precisão ao tratar do acesso livre, dado que o referido jornal não avaliou com cuidado e completeza as estratégias do Open Access, avaliou apenas o uso da VIA DOURADA, aquela que preconiza o uso das revistas científicas de acesso livre e a menos utilizada nos dias de hoje, basta verificar no sítio www.opendoar.org, a quantidade de repositórios, reforçando a implementação da VIA VERDE em todo o mundo.
Um novo periódico em OA: The Journal of Librarianship and Scholarly Communication
Mais uma contribuição da nossa colega Ariadne Chloe Furnival, pesquisadora e professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) que nos enviou mensagem informando sobre a revista Journal of Librarianship and Scolarly Communication, récem lançada e que trata dos novos papeis dos profissionais bibiotecários em relação aos novos modos de comunicação científica.
O Librarianship and Scholarly Communication (JLSC) é uma revista trimestral, revisada por pares, em acesso livre para artigos originais, revisões e estudos de caso que analisam/descreve as estratégias, parcerias e impactos da biblioteca lideradas por projetos digitais, publicação em linha e iniciativas de comunicação científica.
JLSC possibilita um fórum direcionado aos profissionais de informação com o propósito de compartilhar idéias, estratégias, pesquisas e explorações pragmáticas da relacionadas à iniciativas lideradas por bibliotecas relacionadas com áreas como repositório institucional e gestão da coleção digital, biblioteca publica / serviços de hospedagem e esforços em defesa dos direitos dos autores. Como tecnologia de comunicação, acadêmicos, a economia da publicação, e os papéis das bibliotecas continuam a evoluir, o trabalho compartilhado empreendido pelo JLSC informa práticas que fortalecem a biblioteconomia.
O JLSC é um espaço intelectual compartilhado para bibliotecários e demais profissionais da informação que interagem com a comunicação científica, gestores de repositórios institucionais, arquivistas digitais, gestores de dados digitais e profissionais relacionados.
A revista recebe trabalhos de pesquisa originais e de experiência profissional, bem como apresentações em formatos alternativos (por exemplo, vídeo).
A fim de diminuir as barreiras para publicação, JLSC não cobra pela submissão ou qualquer outra forma de taxas do autor.
Editor
JLSC é publicado pela Biblioteca da Pacific University Library. Pacific University (Oregon) é uma entidade privada, instituição de ensino superior com cursos na área de artes com programas de pós-graduação e profissionais em optometria, educação e áreas da saúde.
É uma bela iniciativa, que pode acrescentar e contribuir no debate sobre biblioteconomia e comunicação científica.
RCUK faz consulta pública sobre política de acesso livre
Os Research Councils fazem uma consulta pública sobre a sua proposta de Política de Acesso Livre (RCUK OA Draft Policy), ou melhor, Política de Acesso aos Resultados de Pesquisa, no contexto de todo o documento o governo inglês propõe que tal política se baseie na abertura do acesso às pesquisas, livre de custo.
Segundo o seu sítio, os RCUK investem anualment cerca de 3 bilhões de libras esterlinas em pesquisa abrangendo todas as displinas acadêmicas, que vai das ciências da saúde pasando pelas biológicas, astronomia, física, química, engenharias, ciências sociais, econômia, ambiental, artes e humanidades. Ao analisar o referido documento, considerando todo esse investimento, cabe observar que apesar do rico orçamento o governo inglês se declara, no referido documento, que está em sintonia e em busca de maior comprometimento com a transparência e abertura dos dados de pesquisa, para garantir que a pesquisa seja livrement acessível.
O Reino Unido, após mostrar a sua competência administrativa, entregando toda a infraestrutura dos Jogos Olímpicos de 2012, de forma pontual, vem reforçar essa competência propondo uma política para acesso aos resultados de suas pesquisas.
A iniciativa do governo inglês ao fazer tal consulta demonstra sensibilidade, cuidado com a coisa pública, capacidade para entender e otimizar o custo do desenvolvimento científico e finalmente o seu lado democrático de fazer ciência. São ensinamentos oportunos que o governo brasileiro deveria refletir, discutir e tomar decisão. Quem sabe, um governo cuja o chefe do poder executivo é uma mulher tenha igual sensibilidade e cuidado com a coisa pública?!!
Acesso Livre: uma boa notícia para a Ciência da Informação
Interessante e importante notícia encaminhada pela professora e pesquisadora da UFSCAR, Chloe Furnival, a este blogueiro. Infelizmente não possuo nenhuma equipe para manter o Blog do Kuramoto. O trabalho, em sua maior parte, é fruto de esforço pessoal, mas graças a uma boa rede de amigos, colegas este blog conta com uma verdadeira equipe de colaboradores. Sou muito grato a todos esses colaboradores e não me atrevo a enumerá-los aqui para não incorrer em erros de omissão. Agradeço à Chloe por estar sempre contribuindo para este blog. Leiam: A Library of Information Technology Assotiation (LITA) anunciou recentemente que a sua publicação Information Technology and Libraries (ITAL) “será livremente acessível, exclusivamente a publicação eletrônica, a partir do mês de Março de 2012 (volume 31, número 1). Esta modificação garantirá maior viabilidade à longo prazo à revista, além de torná-la mais acesível, atual, ambientalmente correta, e menos cara para produzir. ITAL continuará publicando artigos com alta qualidade por meio de um processo de revisão por pares rigoroso, mas também ampliará seus conteúdos para incluir mais estudos de casos, comentários e informações sobre temas e tendências de interesse para a comunidade LITA e afins. Além de tornar novos conteúdos acessíveis livremente em Março, o arquivo eletrônico completo do ITAL e seu antecessor, o Journal of Library Automtion (JOLA), estarão também disponíveis em linha. ”
O primeiro número OA tem um editorial interessante descrevento Open Access e Open Data como “pedra fundamental do e-science e seus objetivos de acelerar a descoberta científica” . Esse número contém um artigo sobre a estratégia de importação em lote (batch) e o fluxo usado para importar metadados e documenos em PDF de repositórios gerenciados pelo softwae EPRINTS.
Acesso Livre: como alcançar o Acesso Livre Universal
Pelo post de Stevan Harnad, Plan C for Open Access: Flea Powder, traduzido e publicado por este blogueiro no endereço http://kuramoto.blog.br/2012/03/05/plano-c-para-o-acesso-livre-po-para-pulgas/.
Verifica-se que o único caminho defendido por aquele líder é a implantação da estratégia preconizada pela via Verde, ou seja, a implantação de repositórios institucionais nas universidades e/ou repositórios centrais por parte das agências de fomento e estabelecimento de mandatos/políticas de Acesso Livre. Em outras palavras, o Acesso Livre Universal será alcançado quando todas ou quase todas as universidades construírem e mantiverem seus repositórios institucionais, assim como todas ou quase todas as agências de fomento construírem os seus repositórios centrais e estabelecido os seus mandatos/políticas de Acesso Livre. Em tese isto depende apenas da comunidade científica, mais especificamente das universidades, agências de fomento e pesquisadores.
Ora, este caminho pode ser até viável, entretanto, é um caminho bastante longo, uma vez que existem inúmeras universidades ao redor do globo terrestre e, nem todas estão motivadas a implantarem a via Verde. Certamente, aquelas que tiverem realmente dificuldades em manter as suas coleções de revistas científicas, necessárias ao desenvolvimento de suas pesquisas, se sentirão motivadas a adotarem a via Verde.
Em muitos países, as suas universidades e instituições de pesquisa são responsáveis pelo fornecimento de acesso às revistas científicas e os seus dirigentes e pesquisadores sentem na carne a dificuldade no acesso a essas revistas, têm consciência do elevado custo das revistas científicas e buscam alternativas para superar essas dificuldades, conforme pode ser percebido na entrevista do reitor Bernard Rentier da Université de Liège.
Mas, e aquelas que não enfrentam essas dificuldades? Exemplo de universidades que se enquadram nesse contexto são as universidades brasileiras e outras de países, que à semelhança do Brasil, seus governos se preocupam e têm condições de arcar com os custos de assinatura das revistas científicas e fornecem o seu acesso às universidades e instituições de pesquisa. Certamente, não se sentirão motivadas uma vez que os seus pesquisadores têm atendido a sua necessidade de informação científica por seus governos e não farão qualquer pressão por acesso a essas informações.
Nesses casos, algumas questões são dignas de serem respondidas: Terão esses países orçamentos capazes de manter essas assinaturas eternamente? Esses governos adotaram algum plano de preservação ou de contingência para essas assinaturas? Ou seja, se um dia o país não tiver mais orçamento para manter as assinaturas das revistas, as suas universidades e instituições de pesquisa continuarão a ter acesso às revistas científicas? Certamente, não.
E, certamente, esses países serão o ponto fraco para que se possa alcançar o Acesso Livre Universal.
Por outro lado, o que aprendemos com as matérias de Stevan Harnad é que a via Verde é o único caminho para se alcançar o Acesso Livre Universal. Com essa perspectiva, uma solução para acelerar o processo de implantação da via Verde e alcançar o Acesso livre Universal pode ter sido encontrada ou demonstrada pela Espanha, que inseriu na sua Lei de Ciência, Tecnologia e Inovação um artigo sobre a difusão dos resultados das pesquisas científicas em Acesso Livre. É uma iniciativa que certamente define e estabelece uma política nacional de informação científica. Trata-se do artigo 37 daquela lei, que estabelece essa difusão por meio dos repositórios institucionais de Acesso Livre. Esta lei entrou em vigor no último dia 3 de dezembro de 2011.
De forma análoga, nos EUA o congresso analisa o projeto de lei FRPAA que estenderá o política de Acesso Livre adotada para o National Institute of Health às demais agências de fomento americanas.
As iniciativas espanhola e americana servem de exemplo para países em desenvolvimento, em especial, ao Brasil e outras nações. No caso brasileiro, existe um projeto de lei do Senado Federal, o PLS 387/2011 que tramita na CCT – Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática e tem como relator o senador Cristóvam Buarque. A rigor tudo o que se encontra neste projeto de lei poderia ter sido ou pode ser ainda implementado por mecanismos normais como uma portaria ou instrumento do poder executivo, se houvesse melhor juízo ou entendimento e percepção dos dirigentes do segmento da educação e da ciência.
Repositórios Institucionais invisíveis para o Google Scholar
Leiam um interessante artigo publicado no Library Hi Tech sob o título: Invisible institutional repositories: addressing the low indexing ratios of IRs in Google. Interessante paradoxo, trata-se de um artigo muito interessante para corrigir um problema advindo das iniciativas de auto-depósito, portanto, relacionado com a estratégia da via Verde do Acesso Livre, entretanto, o artigo não é acessível livremente, pois, está publicado em um periódico comercial. Felizmente, nós brasileiros, funcionários públicos podemos contar com o Portal de Periódicos da Capes e ter acesso a este interessante artigo, cujos dados referenciais poderão ser vistos abaixo:
Title: | Invisible institutional repositories: addressing the low indexing ratios of IRs in Google |
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Author(s): | Kenning Arlitsch, (J. Willard Marriott Library, University of Utah, Salt Lake City, Utah, USA), Patrick S. O’Brien, (J. Willard Marriott Library, University of Utah, Salt Lake City, Utah, USA) |
Citation: | Kenning Arlitsch, Patrick S. O’Brien, (2012) “Invisible institutional repositories: addressing the low indexing ratios of IRs in Google”, Library Hi Tech, Vol. 30 Iss: 1, pp.60 – 81 |
Keywords: | Digital libraries, Google Scholar, Institutional repositories, Metadata,Search engine optimization, Search engines |
Article type: | Research paper |
DOI: | 10.1108/07378831211213210 (Permanent URL) |
Publisher: | Emerald Group Publishing Limited |
Acknowledgements: | The authors would like to thank Dr Awesome for her expertise, edits, and unflagging support. |
Abstract: | Purpose – Google Scholar has difficulty indexing the contents of institutional repositories, and the authors hypothesize the reason is that most repositories use Dublin Core, which cannot express bibliographic citation information adequately for academic papers. Google Scholar makes specific recommendations for repositories, including the use of publishing industry metadata schemas over Dublin Core. This paper aims to test a theory that transforming metadata schemas in institutional repositories will lead to increased indexing by Google Scholar.Design/methodology/approach – The authors conducted two surveys of institutional and disciplinary repositories across the USA, using different methodologies. They also conducted three pilot projects that transformed the metadata of a subset of papers from USpace, the University of Utah’s institutional repository, and examined the results of Google Scholar’s explicit harvests.
Findings – Repositories that use GS recommended metadata schemas and express them in HTML meta tags experienced significantly higher indexing ratios. The ease with which search engine crawlers can navigate a repository also seems to affect indexing ratio. The second and third metadata transformation pilot projects at Utah were successful, ultimately achieving an indexing ratio of greater than 90 percent. Research limitations/implications – The second survey is limited to 40 titles from each of seven repositories, for a total of 280 titles. A larger survey that covers more repositories may be useful. Practical implications – Institutional repositories are achieving significant mass, and the rate of author citations from those repositories may affect university rankings. Lack of visibility in Google Scholar, however, will limit the ability of IRs to play a more significant role in those citation rates. Social implications – Transforming metadata can be a difficult and tedious process. The Institute of Museum and Library Services has recently awarded a National Leadership Grant to the University of Utah to continue SEO research with its partner, OCLC Inc., and to develop a toolkit that will include automated transformation mechanisms. Originality/value – Little or no research has been published about improving the indexing ratio of institutional repositories in Google Scholar. The authors believe that they are the first to address the possibility of transforming IR metadata to improve indexing ratios in Google Scholar. |
Plano C para o Acesso Livre: pó para pulgas
Tenho constantemente reproduzido neste blog matérias publicadas por Stevan Harnad em seu blog, por uma questão muito simples, são matérias preciosas que trazem sempre percepções muito interessantes e que devem, a meu ver, ser de ampla disseminação, uma vez que, sem exceção trazem luz a diversos questionamentos.
Desta vez, Stevan Harnad faz uma série de comentários sobre uma entrevista publicada por Richard Poynder em su blog Open & Shut? intitulada Scholarly Publishing: Where is Plan B? O título deste post é uma tradução literal do post publicado em Open Access Archivangelism. O título naturalmente é uma bem humorada crítica à matéria de Poynder.
- As bibliotecas não podem, não precisam e não vão cancelar (importante) as assinaturas das revistas científicas até que todos ou quase todos os seus conteúdos forem acessíveis livremente por seus usuários através de outros meios.
- O risco de boicote por parte de autores não pode, não precisa e não vai parar de publicar ou a revisão por pares para as melhores revistas cinetíficas: Não é necessário e nem realista. Há maneiras mais fáceis e melhores de se tornar esses conteúdos acessíveis livremente.
- Os pesquisadores não podem, não precisam e não vão parar de servir aos conselhos editoriais das melhores revistas científicas. Não é necessário e nem realista. Há maneiras mais fáceis e melhores de se tornar esses conteúdos acessíveis livremente.
- A pesquisa e os pesquisadores não podem, não precisam e não vão abandonar a revisão por pares. Não é necessário e nem realista. Há maneiras mais fáceis e melhores de se tornar os conteúdos das revistas científica livremente acessíveis.
- As revistas não podem, não precisam e não vão se converter em revistas de Acesso Livre (via Dourada – Gold Road) hoje: Isso seria simplesmente tornar o Acesso Livre tão inacessíveis quanto as assinaturas das revistas científicas ( a preços correntes).
- Que aqueles que se preocupam com os preços das assinaturas das revistas científicas e mantém a economia em vista é que a primeira e única razão tão importante a se considerar é que os preços das assinaturas das revistas são exorbitantes e inacessíveis e não há outro caminho aos futuros usuários para acessar os seus conteúdos.
- Assim, somente uma estratégia é realista, viável e é sensata: a que resolverá completamente o problema do acesso e que reduzirá as despesas das revistas científicas e seus preços, assim como, induzirá a conversão de revistas científicas comerciais em revistas científicas com assinaturas (via Dourada – Gold Road) a um preço acessível.
- Essa estratégia é para as universidades e agências de fomento à pesquisa estabelecerem políticas/mandatos de Acesso Livre, a via Verde (Green Road), ou auto-arquivamento.
- Após a estratégia da via VERDE, ou auto-arquivamento, tornar-se universal porque será universalmente reconhecida, o problema do acesso à pesquisa estará resolvido.
- Uma vez que o problema de acesso à pesquisa é resolvido, o acesso à revista não é mais uma questão de vida ou morte: as bibliotecas podem cancelar as assinaturas das revistas cujos preços forem exorbitantes, porque seus conteúdos são de livre acesso para seus usuários através de outros meios.
- Uma vez que a estratégia se torne universal, pós-via Verde (post Green-OA) os cancelamentos de assinaturas das revistas científicas tornarão insustentáveis às editoras atender despesas de publicação, os editores irão reduzir as suas despesas a apenas o custo de revisão por pares, fornecimento de acesso, arquivamento em repositórios institucionais de Acesso Livre e conversão para publicação de Acesso Livre (Gold Road).
- Universidades terão, então, fundos para pagar os custos muito mais baixos referentes apenas à revisão por pares, além de eventuais economias porovenientes do cancelamento de assinatura. (É esse o resultado ideal e inevitável para a pesquisa e pesquisadores que o lobby dos editores está fazendo seu melhor para evitar, tanto quanto possível. Mas cabe inteiramente à comunidade científica decidir quanto tempo fazê-lo. Significa dizer que, enquanto a comunidade não adota a estratégia preconizada, ela permite à pulga se instalar em sua cauda para abanar a pesquisa/cão).
Enquanto um gigante dorme outro busca respostas à proposta do Acesso Livre
No último dia 27 de Fevereiro, o jornalista Guy Gugliotta do New York Times publicou matéria sob o título: Gulf on Open Access to Federally Financed Research, cuja tradução poderia ser: O abismo sobre o Acesso Livre às Pesquisas Financiadas pelo Governo Federal.
Esta matéria fala sobre a percepção do Acesso Livre pelos principais atores envolvidos: pesquisadores, editores científicos.
Stevan Harnad comenta a parte final dessa matéria:
“The debate between these two extremes has been remarkably vitriolic, in part, perhaps, because neither side has been completely honest. Mr. Adler would not discuss publishers’ profit margins, and open-access advocates frequently say that the journals are low-overhead cash cows that are gouging the public. Open-access scientists, on the other hand, are less than candid about how important it is to their careers to be published in prominent traditional journals. If scientists truly wished to kill the system, all they would have to do is withhold submissions.”
“O debate entre esses dois extremos (pesquisadores e editores) tem sido notavelmente virulento, em parte, talvez, porque nenhum dos lados tem sido completamente honesto. Sr. Adler não iria discutir margens de lucro das editoras, e os defensores do acesso livre costumam dizer que as revistas são vacas da baixa sobrecarga do caixa que exploram o público. Os pesquisadores defensores do Acesso Livre são, por outro lado, menos honestos sobre como é importante para suas carreiras publicar na mais importantes e tradicionais revistas científicas. Se os cientistas realmente queriam matar o sistema, o que todos eles teriam que fazer é reter suas submissões.”
Stevan Harnad considera esta observação, claro, um total absurdo:
(1) Que os pesquisadores precisam publicar em revistas com alto padrão de revisão por pares não é segredo (e não há nada a esconder ou se desculpar!)
(2) O objetivo do Acesso Livre não é “matar o sistema”, mas para fornecer Acesso Livre às pesquisas
(3) Como de costume, o falso pressuposto é o que o Acesso Livre se resume à estratégia da via Dourada (Publicações de Acesso Livre)
(4) O Acesso Livre não tem nada a ver com “propostas de retenção” ou boicote.
(5) Ambos os projetos (FRPAA e RWA) são sobre a obrigatoriedade do auto-depósito em repositórios de Acesso Livre, estratégia da via Verde.
Vale a pena escrever um artigo (ou livro) sobre como é esse incansável mal-entendido de algo tão incrivelmente simples e que continua se propagando ano após ano após ano.
E parece que o Congresso americano continuará despreparado, neste ano, em relação ao projeto de lei FRPAA, dividindo com o projeto de lei RWA, em grande parte, o mesmo espírito ignorante como é característico no exemplo do jornalismo “equilibrado” .
Portanto, mais um ano se tenta falar sobre a obrigatoriedade da estratégia da via Verde para o Acesso Livre nas universidades.
Uma coisa, porém, o jornalista estava correto. Há certamente algo que os pesquisadores são menos sinceros: não sobre boicotar as submissões às revistas cinetíficas, mas sobre boicotar os auto-depósitos em repositórios de Acesso Livre.
A minha percepção é a de que em alguns países, desenvolvidos, em desenvolvimento ou não desenvolvidos, os seus dirigentes se preocupam em entender o Acesso Livre, enquanto em outros não existe qualquer preocupação e nem sequer procuram entender um tema tão estratégico para o desenvolvimento da ciência e para o seu progresso.
Acesso Livre: como tudo começou
Tenho percebido a existência de dúvidas no entendimento relacionado aos objetivos do Acesso Livre (Open Access – OA) e de suas estratégias. O contexto que fez com que o Acesso Livre (OA) efetivamente tomasse forma iniciou-se na última década do século XIX (anos 90), época em que a crise dos periódicos científicos se evidenciou pela alta excessiva dos preços das assinaturas e que provocou o cancelamento de muitos periódicos por parte de bibliotecas universitárias de várias parte do mundo e, consequentemente, estas começaram a rever as suas políticas de aquisição e muitos pesquisadores deixaram de ter acesso aos periódicos mais importantes para as suas pesquisas. Ao longo deste período diversas iniciativas alternativas foram desenvolvidas, como por exemplo, os arquivos abertos eletrônicos, desenvolvidos por Paul Ginsparg e seus colegas, dos quais se destacou o ArXiv. Foi um período difícil para os pesquisadores, mas interessante porque estes e conscientizaram do seu papel e também do fato de que seria necessário a busca de uma solução para disseminar livremente as suas descobertas científicas.Stevan Harnad explica sobre quais os reais interesses dos pesquisadores ao publicarem os seus achados ou descobertas científicas:
Ao contrário de outros tipos de autores, que publicam seus textos em busca da obtenção de lucros, os pesquisadores publicam suas descobertas para que possam ser utilizadas, aplicadas e dar origem a outras pesquisas a serem desenvolvidas por outros pesquisadores. A carreira do pesquisador e o progresso da ciência dependem da assimilação da pesquisa e do seu impacto. Os pesquisadores concordam em ceder gratuitamente os seus artigos às revistas científicas em troca de tê-los revisado por pares e certificados em conformidade com os padrões de qualidade das revistas em que elas são publicadas.
Paul Ginsparg vai mais longe ainda dizendo:
Então o ponto essencial é auto-evidente: se nós os pesquisadores não escrevemos com a expectativa de obter lucros diretamente de nossos esforços, então não há razão terrena que justifique que alguém deva obter lucros neste processo (exceto por um justo retorno sobre algum serviço com valor agregado não trivial que ele possa fornecer; ou exceto se, como era antigamente, no caso, apenas, da era da revista impressa, onde os verdadeiros custos para torná-los publicamente disponíveis eram suficientemente altos, de forma a exigir que eles fossem vendidos por um preço.)
A partir desta percepção surgiu o movimento Open Access cuja primeira declaração foi elaborada e lançada como resultado de uma reunião realizada nos dias 1 e 2 de dezembros de 2001, organizada pela Open Society Institute (OSI), o Budapest Open Access Iniciative (BOAI). Conforme descreve o seu sítio (http://www.soros.org/openaccess), esta declaração surge de uma pequena reunião, porém animada e que reuniu participantes de diversas disciplinas acadêmicas e de diversos países, cujo objetivo principal era acelerar o progresso no esforço internacional de tornar os artigos de pesquisa de toda as áreas acadêmicas disponíveis gratuitamente na Internet. Os participantes representavam muitos pontos de vistas e experiências de diversas iniciativas em curso que visavam o Acesso Livre. Foram exploradas como as iniciativas separadas atuando juntas poderiam alcançar o sucesso mais amplo, mais profundo e mais rápido. Eles exploraram as estratégias mais eficazes e acessíveis para servir aos interesses da pesquisa científica, dos pesquisadores e às instituições e sociedades que apoiam a pesquisa científica. Finalmente, eles exploraram como OSI e outras fundações poderiam usar seus recursos de maneira mais produtiva para ajudar a transição para a abertura do acesso à produção científica global, tornando as publicações periódicas científicas livremente acessível e economicamente autosustentável. O resultado é a Budapest Open Access Initiative, que é ao mesmo tempo uma declaração de princípios, uma declaração de estratégias e uma declaração de compromissos.
A declaração Budapest Open Access Initiative recomenda duas estratégias complementares:
i. Auto-arquivamento; e
ii. Revistas Científicas de Acesso Livre.
A primeira estratégia considera que os pesquisadores/acadêmicos precisam de ferramentas e assistência para depositar os seus artigos publicados em revistas arbitradas por revisão de pares (peer-review) em arquivos eletrônicos abertos, prática também chamada de auto arquivamento. Considerando que esses arquivos estejam em conformidade com as normas criadas pelo Open Archives Initiative (OAI), em seguida, os motores de busca e outras ferramentas podem tratá-los separadamente como sendo um só. Desta forma, os usuários, não precisarão saber quais arquivos existem ou onde eles se localizam, a fim de encontrar e fazer uso de seu conteúdo.
A segunda estratégia, Revistas Científicas de Acesso Livre, sugere que os pesquisadores/acadêmicos necessitam de meios para o lançamento de uma nova geração de revistas científicas comprometidas com o Acesso Livre, e ajudar as revistas existentes que se interessem em tornar-se de o Acesso Livre. Considerando que os artigos publicados nessas revistas devem ser disseminados o mais amplamente possível, estas novas revistas não demorarão a invocar os direitos autorais para restringir o seu acesso e uso. Ao invés disto, essas revistas usarão os direitos de autor e outros mecanismos para garantir o o seu permanente Acesso Livre. Considerando que o preço é uma barreira ao acesso, essas novas revistas não aumentarão os preços de assinatura ou taxas de acesso, e buscarão outros métodos para cobrir as suas despesas. Existem diversas alternativas de fontes de financiamento para tender a esses propósitos, incluindo as fundações e agências de fomento à pesquisa, as universidades e laboratórios que empregam pesquisadores, doações de instalação feitas por disciplinas ou instituições, amigos da causa do Acesso Livre, lucros da venda de complementos aos textos básicos, fundos liberados pelo desaparecimento ou cancelamento das tradicionais assinaturas de revistas ou taxas de acesso, ou mesmo contribuições dos próprios pesquisadores. Não há necessidade de favorecer uma solução em detrimento de outras para todas as disciplinas ou nações, e não há necessidade de parar de usar outras soluções criativas alternativas.
Esta declaração define os princípios e estratégias que têm sido seguidas e preconizadas por diversos líderes e especialistas. Paul Ginspag deu tom moral/ético, o fato de os pesquisadores não publicarem com interesses comerciais/lucrativos não dá direito a que outrem utilizar as suas descobertas para fazer lucro ou comércio. Conforme a declaração de Budapeste (BOAI) existem diversas fontes de recursos que poderão apoiar o lançamento/manutenção de uma Revista Científica de Acesso Livre. O uso consciente, moral e ético desses recursos depende dos editores das revistas. Trata-se de um procedimento como qualquer procedimento dentro da administração. Um procedimento incorreto ou fora da normalidade administrativa não pode ser imputado ao movimento do Acesso Livre.
A Índia intensifica as iniciativas de Acesso Livre neste biênio
Segundo post publicado por Tatiana de Mello Dias em seu blog TATIANA DE MELLO DIAS: P2P E Cultura Digital Livre, a Índia, por meio de seu primeiro ministro Manmohan Singh, declarou que o ano de 2012/2013, será dedicado à Ciência, e diversos esforços estão sendo realizados, em todo o país, para intensificar não apenas em quantidade, mas também em qualidade as pesquisas científicas, garantindo maior acesso aos artigos provenientes dos resultados dessas pesquisas.
Um exemplo dessas iniciativas é promovido pelo Instituto Indiano de Tecnologias de Madras (IIT-Madras), que pretende tornar todo o seu acervo de pesquisas científicas, em todas as áreas do conhecimento, em acesso livre, em linha na internet.
É um belo exemplo a ser seguido pelo Brasil, também um dos países do bloco econômico BRIC. Aliás, em meados do ano passado eu já havia publicado um post alertando para o fato de os outros países que compõem o BRIC, Rússia, Índia e China terem registrados uma quantidade maior de políticas de acesso livre que o Brasil. Segundo o ROARMAP, o Brasil conta com 4 políticas registrada: 1) o PL 1120/2007, já arquivada; 2) a política da Universidade Federal do Rio Grande; 3) a política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 4) uma política da USP para teses e dissertações. A rigor, o Brasil conta, efetivamente, com apenas 2 políticas. E, nada mais tem sido feito. O gigante continua adormecido em berço esplêndido.
Quem tem mais acesso à revistas científicas: pesquisadores brasileiros ou americanos?
Em um post de Stevan Harnad, publicado no último dia 22 de janeiro de 2012, intitulado RWA: quem necessita de Acesso Livre? para que? e por que? Harnad responde a algumas perguntas de Sandy Tatcher (ST). As perguntas formuladas referem-se ao contexto americano. No entanto, existem algumas afirmações interessantes de Harnad que achei interessante trazer aos leitores deste Blog, inclusive uma curiosidade que responde ao título deste post.
ST: Você poderia me dizer quantos cientistas, nos EUA, não tem acesso à literatura profissional de que necessita, seja por meio de assinaturas de revistas mantidas pelas instituições às quais são vinculados ou por serviços como o DeepDyve?
Harnad não responde diretamente a essa questão, mas se compromete a dar apenas algumas evidências indiretas, que mostrarei abaixo:
(1) As estatísticas elaboradas pela ARL (Association of Research Library) – atualmente desatualizadas. A estimativa é de que os artigos em revistas científicas que as instituições não conseguem assinar ou licenciar são inacessíveis naquela instituição (biblioteca).
(2) Os dados sobre A vantagem do Acesso Livre sobre Downloads e citações. (indicadores sobre o que está sendo perdido se o acesso é restrito apenas aos assinantes das revistas científicas)
Evidências mais diretas só pode vir a partir de uma pesquisa/levantamento com os pesquisadores ou de um monitoramento automático de suas atividades na web, para ver quantas vezes eles clicam nos links de artigos e são impedidos de acessar devido à solicitação de pagamento (incluindo DeepDyve).
ST: (eu não acredito que seja de responsabilidade do governo americano fornecer acesso às pesquisas a quem quer que seja no mundo).
Harnad comenta/responde dizendo que: Talvez não (embora os pesquisadores americanos não desenvolvam suas pesquisas apenas destinados ao uso, aplicação e novas pesquisas para pesquisadores americanos; e perda de assimilação da pesquisa e progresso é uma perda para todos os pesquisadores e para a pesquisa) – mas as estatísticas da ARL mostra que nenhuma instituição americana (biblioteca) consegue assinar todos as revistas científicas ou a sua maioria, e muitas conseguem apenas uma pequena fração dessas revistas.
Isto é tudo, perda de impacto da pesquisa e progresso.
HK, pitaco do blogueiro Hélio Kuramoto: É interessante esta resposta de Harnad porque ela mostra a diferença entre o nível de acesso às revistas científicas por parte dos pesquisadores que se encontram em uma instituição americana de ensino e pesquisa e o nível de acesso por parte dos pesquisadores brasileiros lotados em uma instituição de ensino e pesquisa pública brasileira. Talvez isto explique a passividade da comunidade científica brasileira com relação às revistas científicas. No Brasil, o governo brasileiro mantém o Portal de Periódicos da Capes, que fornece acesso à quase totalidade das revistas científicas existentes no globo à mais de 300 instituições de ensino e pesquisa. Nos EUA, cada biblioteca universitária é responsável pelas assinatura de revistas científicas. Não existe um portal governamental de revistas que seja similar ao referido portal brasileiro.
ST: Quanto da literatura necessária já está acessível através de repositórios, em conformidade com a estratégia da via Verde? ”
Pelo menos 80% não é fornecido – excepto se o depósito for obrigatório, caso em que menos de 20% não é fornecido.
Harnad ainda comenta uma última pergunta de ST, que não será traduzido por este Blog.
O Acesso Livre e a Inovação Tecnológica
Ao longo dos 6 anos de existência deste blog, tenho publicado matérias mostrando exemplos de iniciativas em favor do Acesso Livre (Open Access) e da Inovação Tecnológica, tais como : Austrália inclui OA na revisão do seu Sistema Nacional de Inovação.
No dia 08 de Abril de 2010, defendi a inclusão do tema Acesso Livre na 4a. Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação por meio do post O acesso livre e a 4ª CNCTI para o desenvolvimento sustentável.
No dia 23 de Novembro de 2011, reiterei a importância do Acesso Livre para o Brasil por meio do post A importância do Open Access para o Brasil. É gratificante verificar que não se trata de um posicionamento isolado, Tylor Neylon, organizador do boicote à Elsevier, corrobora com o posicionamento deste blogueiro dizendo:
“…que os altos custos de assinaturas de periódicos e o policiamento contra a livre circulação de artigos na internet prejudicam as pequenas companhias que contribuem para a ciência e para a inovação.”
Ouso reformular a afirmação de Neylon:
“Os alto custos de assinatura de periódicos e o policiamento contra a livre circulação de artigos científicos na Internet prejudicam tanto as pequenas companhias quanto os países, como o Brasil, que contribuem para a Ciência e para a Inovação.”.
Graças à existência da boa e eficiente iniciativa do Portal de Periódicos Capes, que proporciona aos pesquisadores vinculados às universidades públicas brasileiras, assim como aqueles que se vinculam a algumas instituições públicas de pesquisa o acesso às principais revistas científicas, o governo brasileiro protege as pesquisas científica brasileiras. Trata-se de um excelente serviço de informação. Mas, não se pode esquecer que este portal é fruto de um grande investimento, que custa aos cofres públicos cerca de 65 milhões de dólares anuais. Vale lembrar que as universidades privadas, assim como as instituições de pesquisas brasileiras que não mantêm convênio com a Capes enfrentam as mesmas dificuldades que a empresa de Tylor Neylon.
As iniciativas aderentes à estratégia da via Verde, contribuem decisivamente para o Acesso Livre Universal (Open Access Universal). Caso o Brasil adotasse uma política de implantação e uso dessa estratégia, à nivel nacional, poder-se-ia ter uma rede de repositórios institucionais com toda a produção científica brasileira registrada. Além de proporcionar um maior acesso à informação contida em revistas científicas, portanto, maior acesso aos resultados de pesquisas científicas brasileiras, o país contaria com a possibilidade de desenvolver diversos mecanismos de gestão e serviços de informação com valor agregado que poderiam ser desencadeados para obter maior governança e transparência, assim como, maior visibilidade, uso e impacto dos resultados das pesquisas.
Dentre os serviços de informação com valor agregado, com certeza, a indústria nacional poderia contar com um serviço de alerta sobre potenciais produtos/serviços desenvolvidos por pesquisas científicas brasileiras, hoje, acessíveis apenas àqueles que têm assinatura das revistas científicas nas quais tais resultados foram publicados ou que tenham acesso ao referido portal. O Acesso Livre proporcionaria, assim, uma ação ativa de inovação que dificilmente poderia ser realizado pelo Portal de Periódicos da Capes.
Esses serviços e mecanismos são apenas parte dos benefícios vislumbrados. A elaboração/desenvolvimento desses serviços carece de tecnologias, tais como: i) a mineração de dados; ii) web semântica; iii) ontologias; entre outras tecnologias de tratamento e disseminação da informação.